Construcarta Conjuntura – Fim do longo inverno: começa o ciclo de queda dos juros

Redação SindusCon-SP

Por Redação SindusCon-SP

Construcarta Conjuntura – Fim do longo inverno: começa o ciclo de queda dos juros

Depois de quatro anos, o Copom – Comitê de Política Monetária do Banco Central finalmente decidiu reduzir a taxa básica de juros. Segundo os padrões do regime de metas para a inflação, essa deverá ser a primeira de uma série de quedas da Selic, colocando fim a um dos ciclos de alta/manutenção mais longos desde 1999, quando o regime foi adotado no País.
Essa é uma decisão de grande impacto no cenário macroeconômico. Antes de tudo, ela é decorrência do cenário inflacionário, ou seja, monstra que o Bacen está convencido de que as maiores pressões no sentido da alta de preços estão cedendo. De fato, o IPCA, índice oficial do regime de metas, ficou perto de zero em setembro. No acumulado em doze meses, a variação do IPCA foi de 8,5%, ainda acima do teto da meta atual (6,5%) e também do teto que passará a vigorar a partir de 2017 (6%), mas significativamente abaixo da taxa alcançada em janeiro, de 10,71%. Essa progressiva redução justifica tecnicamente a decisão do Copom, uma vez que os juros são o remédio amargo a ser ministrado na economia sempre que a inflação sobe e ameaça o cumprimento da meta.
Também foi determinante para a decisão do Copom o recente posicionamento da Petrobrás de pautar sua política de preços pela evolução do mercado internacional de petróleo. Além de conferir um caráter mais técnico à política da estatal, essa opção colocou no horizonte a possibilidade de reduções nos preços dos combustíveis a médio prazo, em linha com o que já vem ocorrendo nas últimas semanas. A queda do dólar no mercado interno e o atual nível de preços internacionais tornam esse cenário bastante provável.
O impacto mais imediato da baixa da Selic tende a ser sobre o crédito. Os bancos se tornam mais propensos a ofertar crédito ao setor privado com recursos antes alocados em títulos públicos. Isso, por sua vez, coloca no horizonte perspectivas melhores para o consumo das famílias, mas também para o financiamento de curto prazo das empresas.
Além disso, a queda de juros alivia as contas públicas. Cerca de 20% da dívida mobiliária federal de R$ 2,8 trilhões é diretamente atrelada à Selic. Cada redução de 0,25 ponto percentual na Selic gera uma economia potencial de R$ 1,4 bilhão ao ano na despesa com juros somente na esfera federal. Dada as dificuldades atuais na condução do ajuste fiscal, seja em termos do indesejado aumento de impostos, seja do polêmico congelamento de gastos, esse alívio nas despesas financeiras é providencial.
Por fim, é muito importante que o diferencial entre os juros dentro e fora do País seja reduzido. Economias importantes como Japão e Alemanha começaram a praticar juros nominais negativos em algumas emissões de títulos públicos. Apesar dos diferenciais de risco-país, a Selic brasileira encontra-se hoje em níveis muito altos em uma perspectiva internacional. Situações como essa tendem a tornar o País fortemente atrativo a capitais especulativos, o que pode derrubar a taxa de câmbio em um contexto em que a recuperação do saldo comercial poderia contribuir com a aceleração da atividade econômica e a melhora do nível de atividade da indústria.
Em resumo, o fim de um longo inverno sempre é motivo de celebração. Em princípio, a queda da taxa de juros, quando bem fundamentada tecnicamente, pode ser vista como um novo alento e o início de um ciclo de recuperação virtuosa da economia. Mas ainda há muita neve espalhada nos campos da economia brasileira. Seu degelo e a volta do crescimento equilibrado são, por enquanto, apenas uma perspectiva, uma luz no horizonte econômico. Não uma certeza.
Veja o relatório original aqui.

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