Construcarta Conjuntura: Expectativas em retrospecto e o legado de 2017

Redação SindusCon-SP

Por Redação SindusCon-SP

Construcarta Conjuntura: Expectativas em retrospecto e o legado de 2017

Com a chegada de dezembro, é interessante analisar a evolução das expectativas econômicas ao longo do ano. Isso porque, ao contrário da crença mais comum, expectativas não são sinônimo de previsões, isto é, de uma antevisão de futuro que acreditamos que vai de fato se concretizar. Expectativas são a melhor aposta quanto ao futuro, condicionada ao que sabemos no presente. Na medida em que o tempo avança, estamos prontos a revisar essa aposta sem nenhum grande drama econômico de consciência.
Pode-se começar pela inflação. Há um ano, em dezembro de 2016, segundo o Boletim Focus, a média das expectativas de mercado apontava para uma alta de pouco menos de 5% no IPCA em 2017. Hoje, sabemos que essa alta vai se situar na casa dos 3%. Em linha com essa projeção, o mercado esperava que a Selic encerrasse 2017 acima de 10%. Hoje sabemos que a Selic deve ficar em 7%. A taxa de câmbio projetada para o final do ano em curso era de R$ 3,45, enquanto que a aposta atual é da ordem de R$ 3,20. Por fim, o mercado apostava que o PIB poderia crescer 0,8%. A projeção atual é de 0,9%, ou seja, muito próxima do que se acreditava há um ano.
Vistos em conjunto, esses dados mostram que houve uma grande vitória contra a inflação, em boa medida graças a uma evolução dos preços dos alimentos bem mais favorável do que o esperado. E o câmbio certamente contribuiu com esse resultado.
Com a inflação abaixo do limite inferior da meta, o Banco Central pôde reduzir os juros de forma segura, sem colocar em risco a lógica da política monetária. Como consequência, o crédito ganhou novo impulso e as despesas financeiras do setor público ficaram menos pressionadas.
Mas essa dinâmica favorável no front monetário não resultou em uma taxa mais vigorosa de crescimento do PIB. O ano de 2017 deve se encerrar com um ritmo fraco de atividade que se expande a passos lentos, liderado pelo consumo e, em menor grau, pelas contas externas. E, como consequência dessa debilidade, apesar do alívio em termos do pagamento de juros, as contas fiscais permanecem combalidas, com alta também muito tímida da arrecadação.
É quase impossível não creditar a frustração em termos de crescimento econômico ao cenário político. A gestão da política econômica ao longo do ano concentrou-se na gestão de curto prazo, enquanto a aprovação de medidas de caráter mais estrutural foi seguidamente dificultada pela fraqueza do Executivo. E, por sua vez, a falta de um ambiente de negócios favorável manteve deprimidos os níveis de investimento, afastando ainda mais o horizonte de recuperação sustentada do crescimento.
Frente a esse quadro, qual deverá ser o legado do ano de 2017?
É certo que a economia irá ingressar no novo ano em condições mais favoráveis. Mas o ritmo de atividade puxado pelo consumo só será benéfico enquanto os setores produtivos estiveram ocupando a capacidade ociosa herdada do longo ciclo recessivo. Sem a melhoria efetiva do ambiente de negócios, o que passa pela melhora do clima político, não há como apostar na aceleração do investimento. Com isso, mesmo que lenta, a progressiva elevação dos níveis de demanda poderá voltar a pressionar a inflação no médio prazo. Em resumo, a transição entre o ciclo recessivo e a efetiva retomada do crescimento sustentado deverá ser mais longa do que seria desejável. E, mais do que longa, estará condicionado à evolução do clima político ao longo do ano eleitoral de 2018.

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