Crescimento da construção deverá ser menor que o estimado

Rafael Marko

Por Rafael Marko

Crescimento da construção deverá ser menor que o estimado

Os números do primeiro trimestre indicam que o PIB da construção brasileira deverá registrar crescimento pouco superior a 0% em 2018, e não mais de 1% conforme estimativa anterior. Este desempenho será alavancado principalmente pelo segmento de obras de reformas e autoconstrução.
A nova estimativa foi apresentada pela coordenadora de Projetos da Construção do Ibre/FGV, Ana Maria Castelo, na reunião de Conjuntura Econômica do SindusCon-SP, em 15 de maio.
Coordenando o evento, Eduardo Zaidan, vice-presidente de Economia do SindusCon-SP, previu que o fraco desempenho da indústria da construção ainda deverá persistir pelos próximos 18 meses. “A construção depende dos investimentos da economia e, mesmo que o próximo governo consiga elevar o nível da atividade econômica, ainda demorará para o setor reagir”, prognosticou.
Segundo Zaidan, para que a economia cresça e gere emprego e renda – condição necessária para robustecer a construção –, será necessária uma indústria fortalecida, diversificada e tecnologicamente avançada. “Ao mesmo tempo, será preciso operar uma série de reformas infraconstitucionais e dar mais garantias aos investimentos internos e externos. Essa tarefa pode levar o tempo do próximo mandato presidencial. Se concretizada, teremos um desenvolvimento mais sustentável do país e da construção a partir de 2022”, opinou.
“Despiora” continua
Em sua apresentação, Ana Maria exibiu dados do primeiro trimestre mostrando que continua a “despiora” dos indicadores setoriais. O saldo líquido no nível de emprego na construção brasileira em 12 meses (março de 2017 a março de 2018) foi de -76 mil postos de trabalho, contra -454 mil no mesmo período anterior. No Estado de São Paulo, todas as regiões registraram queda no emprego no primeiro trimestre, à exceção de Bauru. A estimativa para 2018 é de que o emprego da construção brasileira caia 3,4%, ante 12,4% do mesmo período do ano passado.
A economista também apresentou alguns dados positivos. Na variação acumulada do emprego da construção brasileira do primeiro trimestre contra o mesmo período do ano passado, todos os segmentos tiveram queda, exceto o de Engenharia e Arquitetura, que cresceu 2,42%. Na mesma comparação, o número de unidades vendidas na Região Metropolitana de São Paulo cresceu 102%. A produção física de materiais aumentou 1,1%. E o segmento de infraestrutura tem se oxigenado graças a obras viárias.
Ana Maria manifestou preocupação em relação ao anúncio da Caixa, de que destinará neste ano apenas R$ 30 bilhões ao financiamento habitacional, contra os R$ 69,5 bilhões previstos no orçamento do FGTS para a habitação. “Isto coloca seriamente em risco a contratação das anunciadas 650 mil unidades habitacionais do Programa Minha Casa, Minha Vida, especialmente as 130 mil aí incluídas, destinadas à faixa 1 (famílias com renda mensal de até R$ 1.800)”, avaliou.
Segundo ela, boa parte da retração nos investimentos se deve à incerteza eleitoral e à insegurança com relação ao rumo do déficit público. “Leilões de concessões de serviços públicos somente deverão ser retomados no ano que vem, na melhor das hipóteses”, comentou.
Estímulos ao capital privado
Em sua análise, o professor da FGV, Robson Gonçalves, afirmou ser provável que o próximo governo busque estimular investimentos nos três setores com potencial de alavancar o crescimento econômico e que têm apelo de mídia: construção, agronegócio e automobilístico.
“O cuidado a ser tomado no caso da construção é não acelerar o setor a toque de caixa, para depois resultar nos problemas recentes ocorridos. Será preciso adotar medidas mais abrangentes, como investimentos em planejamento urbano, mobilidade urbana e qualidade de vida após a entrega das chaves”, disse.
Gonçalves comentou que somente o FGTS não será suficiente para fazer o segmento habitacional crescer. Preconizou a adoção de marcos regulatórios e segurança jurídica para viabilizar outras políticas habitacionais, como a adoção de aluguel social para permitir que fundos de investimento nacionais e estrangeiros construam empreendimentos populares, cobrando aluguel e repartindo os dividendos entre os cotistas. “Não podemos mais ficar presos dentro de conceitos como ‘casa própria’, e pensar em ‘acesso à habitação’, a fim de desenvolver fontes alternativas de recursos para o setor”, afirmou.
“A tarefa inicial do próximo governo será difícil”, prosseguiu, “pois o presidente deverá ser eleito com alto índice de rejeição, ter de lidar com elevada fragmentação partidária no Congresso e ao mesmo tempo ser pressionado a acelerar o crescimento econômico”.
O professor também reiterou a necessidade de a indústria da construção formular em conjunto com a academia as políticas para o setor e apresentá-las ao próximo governo, para viabilizar o fortalecimento do setor e evitar a descontinuação de ações que vêm dando resultados positivos.

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