Seminário preconiza rigor na execução de estruturas

Rafael Marko

Por Rafael Marko

Seminário preconiza rigor na execução de estruturas

Estruturas de alvenaria estrutural ou de paredes de concreto devem ser executadas rigorosamente a partir de projetos desenvolvidos por arquitetos com visão sistêmica, envolvendo também, desde o princípio, projetistas de fundações e de instalações. Este foi um dos aspectos enfatizados pelos palestrantes projetistas de estruturas, no 19º Seminário Tecnologia de Estruturas, realizado pelo SindusCon-SP, por meio dos Comitês de Tecnologia e Qualidade (CTQ) e de Meio Ambiente (Comasp), em 20 de setembro, no auditório do Centro Britânico, em São Paulo.

Ao abrir o evento, o vice-presidente de Tecnologia e Qualidade, Jorge Batlouni, afirmou que o seminário buscou oferecer caminhos para a indústria da construção em meio à crise sofrida pelo setor. Comentando a Missão Técnica do SindusCon-SP aos EUA (São Francisco e Vale do Silício), realizada no início de setembro, ele se disse impressionado com a responsabilidade pela segurança do trabalho nos canteiros de obras e com a produtividade dos trabalhadores locais.

O coordenador do CTQ, Yorki Estefan, destacou que, a despeito da crise econômica “que é fruto de abusos e corrupção”, o SindusCon-SP realizou o Seminário de Estruturas pelo 19º ano consecutivo, buscando incessantemente a disseminação de novas tecnologias e conhecimentos. “Esperamos que os investimentos voltem aos poucos a partir de 2018 e precisamos estar preparados para o aumento da demanda”, afirmou.

Na mesma linha, o coordenador de Estruturas do CTQ Luiz Lucio, que coordenou o seminário junto com Batlouni, disse que o prolongamento da crise demanda paciência das empresas, tendo o evento o papel de disseminar inovações e boas práticas na execução de estruturas.

Alvenaria estrutural

Em sua palestra, Marcio Roberto Silva Corrêa, professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da Escola de Engenharia de USP em São Carlos, ofereceu uma série de recomendações para que a execução dos sistemas de alvenaria estrutural proporcione o desempenho esperado.

Partir de projetos coerentes e consistentes, verificar a resistência dos prismas realizando no mínimo 12 ensaios, observar a correção de 0,80 preconizada pelo item 6.2.5.3 da NBR 15961-1 quanto ao tipo de argamassamento, cuidar da eficácia do grauteamento, levar em conta a ação do vento, verificar o projeto estrutural sem preconceitos e com ética e cuidar da cura completa das lajes – estas foram algumas das recomendações.

Corrêa também abordou os fatores que mais causam problemas: recalques diferenciais de fundações, interação com outros elementos estruturais, falta de qualidade do projeto de execução e problemas nas alvenarias sob as lajes de cobertura. Ele listou boas práticas para evitá-los: uso de juntas para prevenção de fissuras causadas por aqueles recalques, uso de telas na interação com os outros elementos, controle de qualidade dos blocos recebendo-os de acordo com as normas, verificações para atendimento à Norma de Desempenho, entre outras.

Paredes de concreto

Além do planejamento e execução rigorosa atendendo à norma técnica, as paredes de concreto moldadas na obra devem cercar-se de uma série de cuidados, alertou em sua palestra Francisco Paulo Graziano, professor do Departamento de Engenharia de Estruturas e Geotécnica da Poli-USP.

Graziano chamou a atenção para o dimensionamento correto de vãos, a inclusão de tubulações e eletrodutos, com vistas à manutenção futura; o reforço das aberturas com barras soltas; e o traço correto inicial do concreto nas fundações. Apontou como vantagens a facilidade de execução da estrutura, a diminuição dos ciclos operacionais e o custo competitivo, próximo do previsto.

O professor mostrou um estudo comparativo pelo qual a execução em alvenaria estrutural tem custo menor em edificações de até 12 andares, enquanto aquela em paredes de concreto se mostra vantajosa em edifícios mais altos. O custo diminui ainda mais se o projeto for elaborado por arquiteto com visão sistêmica, com o envolvimento dos projetistas de fundações e de instalações, completou.

Enfrentando surpresas

Em sua apresentação, Roberto Augusto Clara, diretor da Lucio Engenharia, mostrou em detalhes o plano de contingência adotado pela empresa quando descobriu problemas graves na fundação do edifício vizinho ao terreno onde pretendia edificar o empreendimento WRK, no bairro da Liberdade.

Foi necessário consertar primeiro o problema do vizinho e remodelar o próprio projeto, com a introdução de parede em estacas secantes e execução do subsolo de forma invertida, de cima para baixo. Além disso, em função da passagem próxima do túnel do metrô, foi preciso modificar a tipologia dos tirantes.

O engenheiro Clara também mostrou mudanças realizadas para a construção do empreendimento Winner, na Vila Leopoldina, como soluções para o solo argiloso (região dos alagados do rio Pinheiros antes de sua retificação, o que exigiu diafragmas na periferia e barretes no centro do subsolo) e a pré-fabricação de 378 terraços.

Cálculos revistos

Na sequência, Odinir Klein Jr., secretário do Comitê de Estudos da revisão da Norma ABNT NBR 6120 – Ações para o cálculo de estruturas de edificações, mostrou as principais modificações do texto, que deverá entrar em consulta pública até o final do ano.

Klein Jr., também gerente de Desenvolvimento de Projetos de Estruturas de Concreto da França e Associados Projetos Estruturais, informou que foram introduzidos itens referentes a novos materiais, novos usos de estruturas, alinhamentos com normas nacionais e estrangeiras, além da checagem das cargas preconizadas.

Foram contemplados elementos fixos como alvenarias, dry-wall de lã de rocha, novos revestimentos, pisos, telhas e telhados, enchimentos, forros, dutos e redes de tubulações pesadas, empuxos e pressões hidrostáticas. Também se incluíram ações variáveis, como áreas técnicas, edificações de shoppings e centros de exposições, multidões sobre áreas comuns, escadas e jardins, supermercados, coberturas, cinco tipos de garagens e construção industrial (pontes rolantes, pisos etc.).

Nos debates finais, o engenheiro foi questionado sobre o custo desnecessário motivado pela obrigatoriedade de previsão de cargas de 1.500 kgf para ancoragens nas coberturas dos edifícios, solicitada pela NR-18, a norma regulamentadora sobre Segurança e Saúde do Trabalho na construção.

Um pouco de história

Encerrando as palestras, Henrique Lindenberg Neto, professor do Departamento de Engenharia de Estruturas e Geotécnica da Poli-USP, apresentou uma breve história da evolução dos edifícios altos.

Lindenberg mostrou fotos e descrições de plantas dos primeiros edifícios altos norte-americanos com estrutura de esqueleto, desde 1885. Incluiu o icônico Empire State, o Burjan Khalifa de 162 andares e 800 metros em Dubai (já visitado por Missão Técnica do SindusCon-SP) e a Kingdom Tower na Arábia Saudita, que deverá ter 167 andares e 1.000 metros.

O professor também historiou as construções do Masp, em São Paulo, e da estátua do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro. E comentou que, em um curto perímetro no centro da capital paulista, encontram-se edifícios emblemáticos de suas épocas, como Eifel, Itália, Copan, Ester e Galeria Califórnia.

Nos debates que se seguiram, Estefan e Batlouni destacaram a necessidade de revisão da carga de 1.500 kgf da ancoragem. A coordenadora técnica do seminário, Maria Angélica Covelo e Silva, chamou a atenção para a necessidade de se proibirem os guarda-corpos de vidro em viadutos, para evitar a repetição de acidentes como o ocorrido recentemente em Viracopos, onde a queda de um carro ocasionou a morte de suas duas ocupantes.
O professor Lindenberg destacou que, diferentemente do que ocorria até os anos 70, atualmente a engenharia dispõe de elementos facilitadores para a execução de edifícios altos: novos materiais, concreto de alto desempenho, recursos de informática etc. E deixou uma mensagem inspiradora: “A criatividade do engenheiro continua sendo fundamental”.
Veja as apresentações https://drive.google.com/drive/folders/0B2U3SAo46k8DTmlxelpjOUVKNkU?usp=sharing

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