SindusCon-SP e Fiabci mostram exemplo de revitalização urbana

Rafael Marko

Por Rafael Marko

SindusCon-SP e Fiabci mostram exemplo de revitalização urbana

Market Hall_2A concepção criativa e a construção arrojada do Market Hall de Roterdã, empreendimento que reúne em um gigantesco arco apartamentos, mercado, supermercado e restaurantes, revitalizando uma área daquele município holandês, foi o tema da Encontro Empresarial SindusCon-SP e Fiabci-Brasil (Federação Internacional das Profissões Imobiliárias), em 25 de setembro, no Secovi-SP.
Abrindo o evento, o presidente do SindusCon-SP, José Romeu Ferraz Neto, chamou a atenção para a necessidade de se aperfeiçoar a legislação urbana e flexibilizar as exigências do Executivo, para possibilitar concessões e parcerias de revitalização de mercados. Ele comentou o caso da concessão do mercado de Santo Amaro, cuja licitação permaneceu deserta devido à modelagem financeira não atrativa e ao elevado valor da outorga.
Encontro SindusCon-SP e Fiabci-Brasil“Teremos inúmeras oportunidades de aproveitar oportunidades como a do Market Hall de Roterdã, que anualmente atrai a uma única cidade 8 milhões de visitantes, mais do que os 6 milhões que vêm ao Brasil a cada ano. Para tanto, precisamos evoluir, até chegar a um equilíbrio entre o poder público e a iniciativa privada”, afirmou o presidente do SindusCon-SP.
Encontro SindusCon-SP e Fiabci-BrasilNa mesma linha, o presidente da Fiabci-Brasil, Rodrigo Luna, preconizou legislações mais flexíveis para viabilizar esses empreendimentos. Segundo ele, a indústria imobiliária brasileira demonstra resiliência mesmo em momentos de crise como a atual, concretizando empreendimentos arrojados e premiados.
O vereador Police Neto (PSD) manifestou a expectativa de que os empreendedores imobiliários possam desenvolver projetos com a inventividade do Market Hall. Ele lembrou que São Paulo tem 1.100 feiras livres,14 mercados, 7 sacolões, 29 terminais de ônibus e 40 estações de metrô que não configuram destino, colocando-se à disposição para debater propostas de alteração da legislação. O presidente da Asbea, Edison Borges, destacou a necessidade de uma mudança geral de atitude para viabilizar empreendimentos criativos.
Também participaram do evento, pelo SindusCon-SP, os vice-presidentes Jorge Batlouni e Maurício Bianchi (que coordenou os trabalhos); o representante junto à Fiesp, Sergio Porto; o coordenador do Comitê de Tecnologia e Qualidade, Renato Genioli; e o conselheiro consultivo Marco Campilongo Camargo. Compareceram também o presidente do Secovi-SP, Flávio Amary; as assessoras da SP Parcerias da Secretaria Municipal de Desestatização Isadora Bertolin e Carolina Bertoldi; e os diplomatas Silvana Bosch e Hendrick Cuppen, do consulado da Holanda.
O empreendimento
Encontro SindusCon-SP e Fiabci-BrasilEm sua apresentação, Jean Knikker, do escritório de arquitetura MVRDV, que projetou o Market Hall, mostrou como a evolução de Roterdã no pós-guerra acabou favorecendo a revitalização de amplos espaços no centro deteriorado da cidade, como forma também de combater a prostituição e o tráfico de drogas. Seu escritório, junto com a equipe Provast, venceu um concurso público para a construção de um projeto que reunisse um mercado coberto, moradias e revitalização de espaço urbano.
Após uma visita ao Mercado de la Boqueria de Barcelona em 2004, os arquitetos da MVRDV e os incorporadores de Haia começaram a desenvolver o projeto que resultaria na edificação de dois blocos de edifícios que se encontram no topo em forma de arco, com um vão central que abriga um mercado no meio, restaurantes nas laterais, e, nos subsolos, supermercado, estacionamento e docas para abastecimento das lojas e descarte dos resíduos.
Market Hall_3O fechamento nas duas extremidades do arco foi feito em vidro não-reflexivo, de forma a dar luminosidade e ampla visibilidade ao interior para quem está fora. Os apartamentos também dispõem de janelas internas triplas, possibilitando a visualização do vão central sem ruído. Os apartamentos do topo têm recortes do piso envidraçados, para permitir a visualização do mercado. Para não incomodar os moradores e manter a estética da fachada, a entrada para o subsolo foi construída a 250 metros, com uma ligação via túnel.
A concepção e o desenvolvimento do projeto levaram 5 anos, as fundações 3 e a edificação 2. Devido ao solo úmido de Roterdã, foi necessário cravar 2.500 estacas, além de realizar remoções arqueológicas e limpar o subsolo após uma inundação prévia. Com 2.500 caminhões de concreto, o conjunto foi edificado, com 228 apartamentos que vão de 80 m² a 350m², sendo uma parte para locação social à base de 780 euros mensais e outra para venda, com preços que variam até 12.500 euros por m².  Os 127 proprietários montaram uma empresa para realizar a manutenção do conjunto.
Market Hall_4Obtendo a Certificação BREEAM Very Good, o Market Hall tem ventilação natural em seu interior. Os bombeiros aceitaram dispensar a edificação de exigências e se comprometeram a acudir rapidamente em caso de incêndio (como o fizeram quando houve um incêndio em uma loja causado por explosão de gás). O estacionamento tem um sistema de sinalização pelo qual leva no máximo 90 segundos para se localizar uma vaga livre. Para a decoração nas paredes internas do arco, foi criada uma gigantesca pintura com os itens à venda no mercado, tomando-se o cuidado de não estampar figuras de carne em respeito aos imigrantes hindus e figuras de frango, que na Holanda passam a imagem de produtos industrializados.
Market Hall_5Para atrair os futuros compradores, os empreendedores permitiram visitas durante a construção do empreendimento. Mais de 12 mil visitas foram realizadas no período, favorecendo as vendas. Os vãos livres sob as escadas foram transformados em mini-museus, que abrigam os objetos arqueológicos encontrados no local, como balas de canhão.
Para a inauguração em 2014, a rainha da Holanda foi convidada e, apesar de se tratar de um empreendimento privado, ela aceitou. No dia da inauguração, o sucesso foi tão grande que o empreendimento lotou e todas as escadas rolantes quebraram. Durante os primeiros seis meses, a lotação se repetiu e desde então 150 mil pessoas visitas o Market Hall todas as semanas, sendo metade de fora da Grande Roterdã.
O público interno é constituído de pessoas de baixa e alta renda, enquanto a classe média na Holanda tem preferido realizar suas compras fora do centro, onde muitas lojas têm fechado, lançando um novo desafio de revitalização.
Fotos do Market Hall: Nico Saieh (CC)
Fotos do evento: Tulio Vidal

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